pintura arteterapia

O que é Arteterapia?

A Arteterapia é uma prática terapêutica que possibilita à pessoa atendida outras formas de se expressar para além da fala. É uma abordagem que se realiza na experiência, na transversalidade da experimentação e na possibilidade de assumir alguns riscos, riscando-os, rasgando-os, pintando-os, modelando-os.

O setting arteterapêutico, esse lugar onde o encontro entre paciente, arteterapeuta e materiais acontece, se constrói como um meio para que as formas de expressão sejam desmaginalizadas. Isso quer dizer que, ao paciente, é oferecido, além de escuta, presença e atenção, outras alternativas de se estar na relação terapêutica, e que se presentificam através de um fazer.

Tal processo de feitura é um convite para que as questões trazidas em sessão possam ser vivenciadas, também, por meio da criatividade. Esta criatividade diz respeito à uma qualidade humana de dar forma. Como nos fala Fayga Ostrower, “o ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de se relacionar, ordenar, configurar, significar” (2007, p. 9).

Quando trabalho com crianças, por exemplo, a brincadeira quase sempre é trazida como esse caminho de performar suas realidades intersubjetivas, numa tentativa de elaborarem e apreenderem o que vivenciam em seus entornos (Winnicott, 1975). Dar forma, nesse sentido, é o movimento transitório de buscar significados, incorporar o mundo experimentado com tudo aquilo que é sentido e percebido com e no corpo. Com a Arteterapia, temos a possibilidade de convocar a arte nessa formatividade.

Observo que existe um movimento do ser humano de criar experiências nas quais se sinta pertencente, sendo aquilo que ele pode e deseja ser no momento. A Arteterapia, portanto, se desvela em caminhos, rotas de fuga, capazes de possibilitar ao indivíduo encontros e desencontros com fragmentos de seu próprio existir, nos quais estão articulados um amontoado de percepções que o constitui.

Benefícios da Arteterapia

Quando penso nos benefícios que a Arteterapia pode promover, estou sempre falando de um olhar amparado em minha vivência de prática clínica, estudos e, também, como paciente que sou do meu próprio processo terapêutico.

Dito isto, o que posso falar em termos de benefícios é que o contato com materiais de arte, muitas vezes, encenam realidades. Pintar, desenhar, modelar, cortar, rasgar, dançar, interpretar, mexer-se, podem ser metáforas sobre a vida. Na verdade, há muitas metáforas em Arteterapia. Uma delas é como um papel em branco pode ser para alguns, entusiasmante e, para outros, assustador. É diante dessas ambiguidades e contrariedades (que se presentificam também na relação com os materiais), que aprendemos e refletimos sobre nós mesmos.

Um outro aspecto benéfico é que, com a Arteterapia, somos convidados a nos voltar para nosso corpo através de manualidades. Colocamo-nos a fazer, a nos relacionar com um outro tipo de temporalidade: envolve uma relação com o tempo dos materiais, com a espera, a angústia que essa espera pode causar, os simbolismos das etapas, o nosso próprio tempo diante desse fazer. Ao experienciar esses ritmos, nos relacionamos com um tempo que envolve o outro, a existência de alteridades.

Através dos atos de criar, a pessoa é convidada a se perceber, seja relatando o que sentiu ao produzir uma imagem, ou mesmo descrevendo o que fez. Há, nesse movimento, a possibilidade de que o indivíduo crie agência sobre o que produz, permitindo que aquela experiência possa ser legitimada, validada, reconhecida.

O que fazemos com o que vivenciamos no processo arteterapêutico?

É importante colocar que, todo processo arteterapêutico só se realiza porque existe disponibilidade tanto da parte da arteterapeuta quanto, e principalmente, da parte do paciente. E essa disponibilidade está ancorada em como o vínculo terapêutico se desenvolve e em como o paciente se percebe capaz de fazer movimento com aquilo que está sendo elaborado. Isso, geralmente, leva tempo. Um tempo que não é mensurável e só pode ser vivido e reconhecido a partir da experiência intersubjetiva de cada um.

Assim, tentando dar conta da pergunta, “O que fazemos com o que vivenciamos no processo arteterapêutico?”, sem tomá-la como encerrada, posso dizer que fazemos movimento, aprendemos a nos colocar dispostos a compreender que certos “problemas” são, na verdade, modos de estar no mundo, capazes de serem transformados porque novas experiências são somadas, e não subtraídas. Aprendemos a fazer escolhas. Ou pelo menos, a reconhecer que certas escolhas existem. Percebemos que somos e seremos falhos. Como lidar com tudo isso é que é o percurso a ser vivenciado.

Vamos conversar sobre as possibilidades arteterapêuticas?

Há uma espécie de investigação que é feita com toda pessoa que chega para eu atender. E sobre o que é essa investigação? Não me refiro exatamente àquela que pressupõe todo processo arteterapêutico, e que esbarra no conteúdo, naquilo que a pessoa traz como fala e imagem para serem exploradas e elaboradas. Mas, um tipo de exame que é observado a partir da relação que cada um tem com a introdução dos materiais de arte. Quem traz o compasso e a régua, metaforicamente falando, é o paciente. É ele quem dá um certo ritmo, uma certa medida e um certo tempo, com os quais a relação arteterapêutica começa a acontecer. Nesse sentido, existem muitas possibilidades arteterapêuticas, que só serão compreendidas a partir de uma vivência em Arteterapia.

Com isso, pontuo que não há uma receita, um caminho que seja necessariamente de um determinado jeito. A forma de fazer e de viver o processo arteterapêutico é única para cada pessoa.

Referências

  • OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação, 21ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
  • WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975.
Conheça Clara Maria Abdo
Conheça Clara Maria Abdo

Clara Maria Abdo é arteterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. Mestre em Antropologia Social, pela UFF, e estudante de Psicologia.

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Sobre mim
Olá! Meu nome é Clara Maria Abdo

Sou arteterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. Atuo e elaboro uma clínica arteterapêutica a partir da arte, da palavra e do brincar. Atendo online e presencial no Rio de Janeiro (Copacabana e Flamengo).

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